quarta-feira, 6 de novembro de 2019
Reforma da Previdência: o que ganham os pobres?
O Núcleo de Estudos em Políticas Públicas e Opinião (NEPPU) da FURG realizou no último dia 30/10/2019 a conferência com o tema 'Reforma da Previdência: o que ganham os pobres?'. A atividade acadêmica aconteceu no Campus de Santa Vitória do Palmar e foi prestigiada com a participação de dezenas de estudantes.
O coordenador Prof. Dr. Hemerson Luiz Pase agradece muito às excelentes exposições dos professores Dr. José Ricardo Caetano Costa e Dr. Wagner Feloniuk!
terça-feira, 29 de outubro de 2019
Conferência 'Estado e Constituição: Compreensões Teóricas'
O Núcleo de Estudos em Políticas Públicas e Opinião (NEPPU) da FURG realizou no último dia 23/10/2019 conferência sobre 'Estado e Constituição: Compreensões Teóricas'. A atividade acadêmica aconteceu no Campus de Santa Vitória do Palmar e foi prestigiada com a participação de dezenas de estudantes.
Agradecemos muito à excelente exposição do professor da UFPel Dr. Daniel Lena Marchiori Neto!
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Agradecemos muito à excelente exposição do professor da UFPel Dr. Daniel Lena Marchiori Neto!
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segunda-feira, 21 de outubro de 2019
Conferência Formação da Agenda Setting
O Núcleo de Estudos em Políticas Públicas e Opinião (NEPPU) da FURG realizou no último dia 16/10/2019 conferência sobre 'O papel das ideias, conhecimentos e valores na formação da agenda setting nas políticas públicas'. A atividade aconteceu no Campus de Santa Vitória do Palmar e foi um sucesso contando com a participação de dezenas de estudantes.
Agradecemos muito à excelente exposição do professor da UFPel Dr. Márcio Barcelos!
quinta-feira, 25 de abril de 2019
As redes virtuais e a construção do inimigo
As
redes virtuais e a construção do inimigo
Hemerson Luiz Pase
Desde
que aderi ao Facebook e ao WhatsApp tive a impressão de que as
pessoas virtuais (perfis) são muito mais intensas, interagem com
muito mais radicalidade e extremismo que na vida normal. Penso que há
algum gatilho psicológico que desinibe os indivíduos e os permite
escrever coisas para as outras pessoas que jamais diriam
pessoalmente. Resultado comum é a construção de inimizades que
tem um duplo objetivo, agredir alguém ou alguma coisa, buscar
simpatia e legitimidade pessoal a partir da tripudiação do outro.
Talvez esse gatilho psicológico seja massageado pela impunidade,
raramente as redes virtuais punem seus usuários. Não obstante,
algumas vezes as postagens sejam usadas como prova de calúnia,
difamação ou falsidade na advocacia, sua efetividade, seu impacto
jamais é totalmente sanado.
Não
ocorreu coisa diferente nas eleições majoritárias de 2018, a
linguagem das redes sociais, de via única, substituíram o debate e
a apresentação de programas e compromissos. A vitória de Bolsonaro
foi construída a partir da calúnia, difamação, promessas
segmentadas, ou seja, a partir da agressão ao(s) outro(s) candidatos
e da busca da legitimidade pessoalíssima, como se diria em bom
juridiquês. Essa linguagem permanece viva quando vemos os ministros
de Bolsonaro dizer que se a Reforma da Previdência não for aprovada
o país quebra, o governo não poderá mais pagar os servidores
públicos. Não obstante, proíbem a apresentação dos dados, das
contas, da prospecção dos resultados que a reforma produzirá.
Aqui
no Rio Grande do Sul a receita não é diferente, os últimos dois
governadores gaúchos, atrasam salários para forçarem reformas
difíceis. O que unifica a linguagem neoliberal conservadora desses
atores políticos? A necessidade de construirem inimigos para fazer o
mal! Ou seja, para convencerem a população a autorizá-los a
aprovar medidas que impõe perda a grandes contingentes
populacionais. Numa palavra, para legitimá-los entregando-os um
cheque em branco, a partir da ditadura da maioria, pior do vícios
da democracia, desde Aristóteles.
Esse
fenômeno parece novo, mas não é. A novidade é o instrumento que
está sendo utilizado para realizá-lo. Esta linguagem foi teorizada
na Segunda Guerra Mundial quando o Ministro da Propaganda de Hitler,
Joseph Goebbels, afirmava 'Uma mentira repetida muitas vezes torna-se
verdade(...)'. No Brasil essa
linguagem foi muito habilmente utilizada durante a ditadura militar
conforme mostra
o Dr. Everton Santos (2010) no seu excelente livro que desvenda
o papel da ESG com cérebro da formulação teórica e da propaganda
do regime militar. Inspirado em Thompson (2009), Santos mostra
como a doutrina da segurança nacional foi um instrumento essencial
na construção do método e do marketing do regime militar, cujo
modus operandi era de construir um inimigo externo, o comunismo, e
inimigos internos, os adversários do regime.
A
doutrina da segurança nacional justificava todas as ações do
regime militar, a construção de um judiciário inquisitório, a
censura aos meios de comunicação, a perseguição aos opositores,
as grandes obras de infraestrutura às custas do meio ambiente, enfim
toda sorte de ações legitimadas pelo regime representativo
'autorizado'. A doutrina orientava as ações de toda a burocracia
nacional e era propagandeada pelos jornais, nas escolas, nas igrejas
e nas universidades. Ou seja, os instrumentos de popularização eram
distintos daqueles utilizados no presente.
Indiscutivelmente
os meios de construção de inimigos atualmente são distintos
daqueles utilizados pela ditadura militar, mas o papel que a época
era exercido pela doutrina da segurança nacional atualmente é
substituído ora pelo endividamento do Estado, ora pela déficit da
previdência, ora pela ameaça representada pelos médicos cubanos ou
pelo presidente Maduro, da Venezuela. É importante conhecermos e
analisarmos o conteúdo e a metodologia utilizada para a construção
dos inimigos do regime, pois isso determinará o nível de
legitimidade para os governos fazerem o mal. Antes era a doutrina da
segurança nacional, hoje é o hipertrofia do Estado! Antes era a
'hora do Brasil' hoje é o Facebook.
Bibliografia:
Santos,
Everton. Poder
e Dominação no Brasil: a Escola Superior de Guerra (1974/1989).
Porto Alegre/Novo Hamburgo: Editora Sulina/Feevale, 2010. v. 1. 223p
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Thompson,
John. Ideologia
e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2009.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
As palavras tem força
As palavras têm
força
Adriana
Soares Dutra
Hemerson
Luiz Pase
Umberto
Eco disse uma vez que quando a humanidade perde uma língua, perde
algo que nem conhece. O brilhante autor se referia a possibilidade do
extermínio de tribos africanas fazer desaparecer as pessoas e a sua
língua. As palavras, os jargões, as gírias têm muita força pois
traduzem coisas, materializam ideias, valores e concepções de
mundo. Existem áreas onde isso é ainda mais evidente, como nas
políticas públicas. Quanta disputa retórica e discursiva ocorre
entre uma eleição e a efetivação de uma política pública? E
depois, quanta discussão ocorre sobre seus resultados, sobre sua
eficiência, eficácia e efetividade, sobre o público ao qual a
política se destina?
A
concepção que afirma o papel das ideias, dos valores e dos
argumentos nas políticas públicas é sistematicamente utilizada
para explicar resultados, seja acionando pesquisadores renomados,
seja tencionando a partir de valores morais religiosos.
Não
obstante, existem algumas áreas de políticas públicas onde essas
disputas pela 'palavra' se dão a partir da tentativa e erro em
oposição ao tencionamento de valores e, muitas vezes, até de
pesquisas, essa área é o meio ambiente. Como prever ou antecipar os
resultados de uma ação de preservação ambiental sem que um
desastre irrompa, nos afrontando? Essa é uma das grandes lições
que os acontecimentos em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019)
insistem em fazer notar. Qual o limite que uma empresa tem para
explorar a natureza? Qual o limite da natureza? Até aonde ela pode
suportar?
Considerando
que a história possibilita o aprendizado perguntamos, será possível
ainda negligenciar o investimento em prevenção e preparação? Se o
risco não aparece, ele não está presente na disputa discursiva e
retórica, se não está presente não pode ser antecipado, se não
pode ser antecipado nos destrói.
Quando o desastre
emerge e já não se torna possível adotar a estratégia de
silenciamento, normalmente a preferida dos representantes dos
segmentos dominantes, observa-se uma cuidadosa seleção sobre o que
e como dizer.
A
evidência da importância das palavras é perfeitamente observável
na disputa por termos como: tragédia x desastre, desastre natural x
desastre ambiental, zonas de atenção x áreas de risco, acidente
industrial x crime ambiental. As empresas que exploram o meio
ambiente diretamente como grandes hidrelétricas, mineradoras,
petrolíferas, do setor do agronegócio, todas disputam diuturnamente
as palavras e seu conteúdo.
Este
é o grande problema: o risco nunca é avaliado e as medidas
protetivas não são perfeitamente adotadas até a emergência do
desastre. Para justificar este posicionamento, o qual envolve
aspectos econômicos e políticos, a produção do discurso se
apresenta de maneira bastante eficaz, produzindo consensos e
apaziguando ânimos. Sempre é possível ir mais longe, já que não
há evidência da tragédia. Os casos de Mariana e de Brumadinho,
ambos envolvendo a empresa Vale, mostram que depois do impacto
aparecem evidências de que existiam riscos que foram relativizados
discursivamente.
Em reportagem do
Jornal Folha de São Paulo, de 13 de fevereiro de 2019, a empresa
nega que tenha havido apontamento de risco de rompimento iminente da
Barragem de Brumadinho por parte dos técnicos que desenvolveram o
estudo. Optaram por falar em "zonas de atenção" e
"cenários hipotéticos", distanciando-se do desastre que
se produzia em ritmo acelerado. A escolha dos termos revela, em
última instância, a ausência de medidas que poderiam ser tomadas
para a proteção das pessoas, incluindo os trabalhadores da própria
Vale, caso o risco fosse realmente enfrentado.
Em uma outra
perspectiva, o que ocorreu em Brumadinho, três anos depois de
Mariana, não pode ser compreendido como incidente, acidente ou
eventualidade. Constituem-se em crimes ambientais, produtores de
verdadeiros desastres, com consequências nefastas, especialmente
para os segmentos mais pobres da população. Sustentados por
decisões pautadas em interesses políticos e econômicos, revelam a
sobreposição do lucro em detrimento do valor da vida e a hegemonia
do desenvolvimento neoextrativista, a partir do qual não há limites
para a exploração dos recursos naturais, como defende o professor
Henri Acselrad. Compreender esta lógica é também disputar o
discurso, o poder das palavras e suas intenções, porém sob a ótica
dos atingidos.
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