A Abordagem da Liberdade na Modernidade e a sua Deturpação
na Contemporaneidade
Dyaila
Polare[1]
Resumo
Este
trabalho busca analisar visões de alguns autores liberais, realistas e
contratualistas da modernidade sobre o conceito de Liberdade e, assim, discutir
como a temática está intrinsecamente correlacionada, porém deturpada, nos dias
atuais.
Palavras-chave: Conceito de liberdade; liberais, visão de realistas e contratualistas da modernidade; deturpação.
Introdução
A
Liberdade foi conceituada pela Constituição Federal de 1988 do Brasil como
aquilo que “consiste na escolha de uma possibilidade da forma de pensar e agir”
(CARVALHO, 2013) e é um termo presente na obra de inúmeros escritores desde a
Antiguidade até os tempos atuais. Nesse sentido, nota-se, em cada uma das
explicações sobre o conceito, um arcabouço teórico e empírico de cada filósofo
ou autor a fim de definir, de maneira efetiva para si, esta nomenclatura tão em voga na Contemporaneidade.
A Abordagem da Liberdade na
Modernidade
Este
termo foi abordado por muitos filósofos idealistas, já que elaboravam ideias de
um mundo ideal ao invés de se conter e resolver as questões vigentes de suas
épocas. Nesse sentido, esta teoria advém do Iluminismo, período este conhecido
como o “século das luzes”, cuja razão estava, aos poucos, infiltrando-se na sociedade
e regendo o mundo. Logo, é um pensamento liberal que defendia que a existência
das coisas no mundo dependia das ideias presentes no espírito humano e que,
portanto, a realidade é conhecida apenas por meio dessas
concepções.
Por
essa análise, um dos grandes nomes dessa corrente filosófica é o Edmund Burke,
teórico político influenciado por autores, como: John Locke, David Hume,
Aristóteles e entre outros. Burke foi um dos grandes críticos da Revolução
Francesa de 1789, pois em um evento histórico que pôs fim ao absolutismo que
existiu na França por séculos, o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” não
foi posto em prática, como deveria para todos os cidadãos, e, assim, Burke
analisou que o slogan da revolução só serviu para subverter a ordem e
agravar a desigualdade real que nunca poderá ser eliminada. Correlacionado a
isso, Jean-Jacques Rousseau, filósofo iluminista, que acreditava que o ser
humano nasce bom, mas se encontrava aprisionado por toda parte.
Por
analogia a isso, desde que o homem deixou de ser nômade e tornou-se sedentário há
busca pelo poder, sobrevivência e a necessidade de acumular vantagens
frente aos outros aumentaram e, como foi idealizado por autores
contratualistas, o pacto social consistia em um contrato entre os
indivíduos e o agente representante destes, o Estado, em que, como
pensado por Thomas Hobbes, a sociedade deveria entregar parte de sua liberdade
em prol da segurança, para que, assim, a população se afastasse do estado
de natureza em que todos estariam uns contra os outros, por meio da
violência. Dessa forma, Rousseau refletiu em suas obras sobre o pacto social e
notou o aprisionamento dos indivíduos desde tempos remotos, como na
submissão ao Estado.
Outra
teoria que está intrinsecamente correlacionada com o tema da Liberdade é
o realismo, corrente teórica que possui uma leitura do mundo como ele
realmente é e não como deveria ser, ou seja, uma visão menos otimista sobre a
natureza humana. Alguns autores também analisaram o termo com precisão, como
Alexis de Tocqueville, pensador político francês, nascido em 1805, que discutiu
que a liberdade só é concretizada e conciliada com a igualdade na democracia,
ou seja, em governos despóticos ou monárquicos não seria possível encontrar
este direto universal. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo germânico, concordou
com esta ideia de Tocqueville ao afirmar que a democracia é a melhor forma de
governo para garantir a liberdade dos indivíduos, pois, assim, esta seria
assegurada. Com isso, Alexis se debruçou na problemática “o que fazer para que
o desenvolvimento da igualdade irrefreável não seja inibidor da liberdade,
podendo por isso vir a destrui-la?”. A solução encontrada esteve filiada ao
pensamento dos Federalistas, políticos que acreditavam que o Estado deveria
proteger a liberdade e promover a libertação dos homens, o que se alinhou com a
ideia proposta por Tocqueville de descentralização do poder por meio do federalismo
(dividido em Legislativo, Executivo e Judiciário), igualdade jurídica e a
atividade política de todos os cidadãos para que, dessa forma, a igualdade não
impedisse a atividade da liberdade.
Outro
autor que contribuiu muito para o entendimento desse conceito tão explorado foi
Immanuel Kant, escritor prussiano da filosofia moderna. Este refletia que a
liberdade é fazer o que a lei permite e a causa das ações é o próprio livre
arbítrio do indivíduo. Outrossim, o autor discutiu as vertentes possíveis do
conceito e, segundo o escritor Francisco Weffort que analisou a obra de
Immanuel, “num primeiro sentido, portanto, a liberdade é a ausência de determinações
externas do comportamento. Esse é o conceito negativo de liberdade (WEFFORT,
2001, p.53). Em outro momento o autor analisa que, a versão positiva é a
“liberdade como autonomia, ou a propriedade dos seres racionais de legislarem
para si próprios” (WEFFORT, 2001, p.54). Em linhas gerais, Kant analisa que a
sociedade se organiza conforme a justiça apenas se cada
cidadão possui a
liberdade de fazer o que quiser sem interferir na liberdade do outro e, assim,
o filósofo prussiano configura-se como um dos mais radicais teóricos do
liberalismo.
A Deturpação do
Conceito na Contemporaneidade
Está
em debate na presidência de Jair Messias Bolsonaro a falta da liberdade, ou
em outras palavras, a negligência do termo e a hipocrisia presente no
governo. Relacionado a isso, Bolsonaro foi eleito em 2018 como chefe de Estado
do Brasil e enfrenta inúmeras críticas quanto às suas ações tanto individuais
(como os discursos de ódio que este relata sem receio de uma provável
intervenção) tanto pelas ações coletivas com seus filhos, que também fazem
parte do governo, crime conhecido como nepotismo. Em seus discursos, o
presidente reconhece o papel das redes sociais durante às eleições pelas quais foi
eleito e afirma que o seu “marqueteiro é um simples vereador”, fazendo alusão
à Carlos Bolsonaro.
No início
de sua candidatura, o atual presidente afirmava que as críticas não interferiam
no seu mandato, visto que acreditava na liberdade de expressão defendida pela
Constituição Federal de 1988. Entretanto, este sujeito viola a liberdade de
expressão e o acesso à informação de jornalistas, congressistas, estudantes e influenciadores
que discordam de seus pensamentos, bloqueando-os de suas redes sociais,
como: Instagram, Facebook e Twitter. De acordo com dados da Organização
das Nações Unidas (ONU) cerca de 176 contas tiveram o acesso impedido ao
conteúdo do presidente este dado está em consonância com o da Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) que identificou o impedimento
de 135 repórteres de acessarem às redes sociais do presidente.
Nesse
sentido e, hipocritamente falando, Bolsonaro além de bloquear os veículos
de imprensa e indivíduos, ele critica a exclusão de postagens dele
nas plataformas, como discorre Marina Laura Canineu, advogada e mestre em Direito Internacional:
O presidente Bolsonaro
afirma que a liberdade de expressão dele e de seus seguidores é cerceada
quando as plataformas excluem desinformação prejudicial e contas
falsas, mas ele mesmo não pensa duas vezes antes de violar o direito ao
acesso à informação e a liberdade de expressão das pessoas que discordam
dele (CANINEU, 2021).
Assim,
o presidente, ironicamente, justifica que há um cerceamento de provas e acaba
por prejudicar a parte em relação ao seu objetivo pessoal.
Considerações Finais
Por
meio dessa análise, percebe-se que a liberdade foi abordada de inúmeras formas
pelos filósofos da Modernidade nos quais uns estavam em consonância, mas outros
se refutavam por conta de seus diferentes tipos de inspirações e
arcabouços históricos. Além disso, de forma resumida, foi possível
observar a discrepância do conceito na sociedade brasileira no governo de
Jair Messias Bolsonaro que limita um dos direitos básicos proclamado em eventos
históricos, como a Revolução Francesa, época do Iluminismo, defendido pelo
filósofo Voltaire, cuja principal temática foi a liberdade de expressão e
a isonomia dos cidadãos perante este direito que, em teoria, deveria ser
universal.
Referências
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[1] Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. E-mail: dyailapolare@gmail.com
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