terça-feira, 29 de maio de 2012

ESCLARECIMENTO METODOLÓGICO


II PESQUISA DE OPINIÃO -  INTENÇÃO DE VOTO NA CONSULTA À COMUNIDADE PARA A REITORIA DA UFPEL – 2012

“Se puder ver, veja. Se vês, repara!”


José Saramago




Toda pesquisa parte de uma ontologia, a visão de mundo do pesquisador, e de uma epistemologia, que diz respeito a diferentes aspectos da filosofia do conhecimento como a origem, estrutura, métodos, e validade do conhecimento.  Toda pesquisa científica precisa partir da definição paramétrica que definem a população (universo) estudada, e de variáveis, regularidades ou irregularidades, que se deseje conhecer. 


Algumas áreas do conhecimento tem grande facilidade para definir a unidade analítica, universo / população e amostra e pode fazê-lo à priori em razão da sua natureza. 


Exemplo disso são as áreas biológica e exata cujas definições iniciais são menos áridas embora, na maioria das vezes, a exigência e complexidade dos testes empurra para longe a obtenção de resultados ou a prova da hipótese.

Doutra natureza é a pesquisa social que implica, necessariamente, lidar com populações heterogêneas distribuídas irregularmente e, nem sempre, afeitas a responder surveys. Embora se trabalhe incansavelmente em busca de regularidades, qualquer pesquisa social representa momentos e, portanto, capta tendências e não valores absolutos.

O Núcleo de Estudos em Políticas Públicas (NEPPU) está assumindo a árdua tarefa de fazer e, principalmente, ensinar a fazer pesquisa social na UFPel. Os objetivos das pesquisas de opinião realizadas no espectro da consulta à comunidade universitária para a escolha do Reitor para o período de 2013-2016 foram: Contribuir com o aprendizado dos estudantes a partir da utilização da metodologia quantitativa em pesquisa social; Identificar a opinião da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas sobre a disputa estabelecida pela consulta à comunidade para a escolha do Reitor para o período de 2013-2016.

Foi utilizada a metodologia quantitativa através da técnica de aplicação face a face de survey composto por questões fechadas (em anexo), cuja análise foi realizada no Statistical Package form the Social Sciences (SPSS).

A definição da amostra seguiu o rito científico adequado, considerando objetivos, parâmetros e características da população que, em ciências sociais, nunca é homogênea. A amostra busca sim, garantir similaridades, regularidades e contemplar as variadas características (heterogêneas) da sociedade em tela (comunidade acadêmica).

Optou-se por uma amostra aleatória não probabilística proporcional ao tamanho das cotas[1] em razão da necessidade de equalizar a possibilidade econômica e a necessária celeridade, garantida a validade para a população / universo representado. Os 705 indivíduos foram distribuída pelas cotas proporcionais entre os professores, técnico-administrativos e estudantes, o que revela que nenhum dos segmentos está subrepresentado.

Eventuais distorções, possíveis a qualquer pesquisa social quantitativa, estão controladas em vários momentos: teste do instrumento, treinamento dos pesquisadores, definição dos locais de entrevista, definição paramétrica, margem de erro, intervalo de confiança. Além de tais controles, a possibilidade de viés, está controlada na análise estatística e principalmente na ponderação equânime dos três segmentos.

Existe vasta literatura[2] que versa sobre metodologia estatística em ciências sociais que demonstra que uma amostra de 600 indivíduos é suficientemente adequada para representar qualquer universo, admitindo-se margem de erro aceitável, cuja diminuição significativa dependeria de ampliação exponencial e proibitiva da amostra.  Exemplos disso são as pesquisas de opinião recentemente realizadas em Pelotas e Porto Alegre, cujos universos são imensamente maiores que a comunidade universitária da UFPel.

Não existe nenhuma indicação, em nenhuma literatura das ciências sociais, que exija percentual mínimo para representar determinado universo, muito menos um percentual de 10%. Se isto fosse verdadeiro, uma pesquisa de opinião para eleições presidenciais no Brasil necessitaria entrevistar 10 milhões de cidadãos (10% dos eleitores brasileiros).

A amostra possui intervalo de confiança de 95% e erro amostral de 3,5% para mais ou para menos. Os locais de aplicação dos questionários foram escolhidos usando critério científico que todos os indivíduos (componentes da comunidade universitária) teriam chance igual ou próxima de serem encontrados e inquiridos: os estudantes foram entrevistados em dois locais de intenso fluxo: Restaurante Escola do centro de Pelotas e Campus Capão do Leão; os servidores técnico-administrativo foram entrevistados em quatro locais: Campus Capão do Leão, Campus Porto, Campus (região) das Ciências Sociais e Hospital Escola; os professores foram entrevistados em três locais: Campus Capão do Leão, Campus Porto e Campus (região) das Ciências Sociais.

            Toda pesquisa de opinião mostra um momento específico do processo, não captando-o no todo, o que, analogamente, pode ser representado pela figura de uma fotografia que registra um momento importante, porém que rapidamente pode mudar. Isso significa que nesse momento esse resultado já pode estar superado.
A média ponderada é realizada a partir da soma e divisão por três dos percentuais obtidos pelas candidaturas nos três segmentos (professores, técnicos-adminitrativos e estudantes). Isto equivale ao modelo paritário aprovado, e em execução, pela comissão eleitoral formada pela ADUFPel, ASUFPel e DCE.





Conforme gráfico acima, se a consulta à comunidade acadêmica para a reitoria da UFPel (2013 – 2016) tivesse sido no dia 24/05/2012 as chapas 4 e 5 teriam passado ao segundo turno com 21,8 % e 18,9 % dos votos, respectivamente. Considerando a margem de erro a chapa 4 poderia obter de 18,3 % a 25,3 % e a chapa 5 de 15,4 % a 22,4 %.






         A comparação entre a pesquisa realizada em 07 e 08 de maio e a realizada em 24 de maio revela uma diminuição substantiva do número de indecisos (Branco e Nulo, NS e NR) que passaram de 28,8 % para 12,5 % e se distribuíram por todas as candidaturas, à exceção da chapa 2 que teve um decréscimo de 1%.
            A candidatura que mais cresceu foi a da chapa 4 com um acréscimo de 7,7 % seguida da chapa 3 com 7,3 %. As que menos cresceram foram a chapa 6 com 0,2 % e a da chapa 1 com 0,3 %. A chapa 5 teve crescimento de 2 %.




ALERTA


    Toda pesquisa de opinião, particularmente as eleitorais, são fortemente criticadas no seu método e, principalmente, na sua amostragem e margem de erro. Isso é completamente legítimo, principalmente por parte daqueles que se veem mal colocados.




FICHA TÉCNICA


Pesquisa de opinião no processo de consulta à comunidade universitária para escolha do reitor da UFPel;

Período de aplicação: 24/05/2012
Universo: 1.222 docentes, 1.179 servidores técnico-administrativos e aproximadamente 23.000 alunos.
Amostra: 705 entrevistados (79 docentes, 89 técnico-administrativos, 537 estudantes)
Realização: Núcleo de Estudos em Políticas Públicas – NEPPU
Coordenação: Dr. Hemerson Luiz Pase
Consultoria: Dra. Patrícia Chaves da Cunha



[1] SUDMAN, Seymour. Applied sampling. Academic Press. New York, 1976.
[2] BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
BAQUERO, Marcello. A pesquisa quantitativa nas ciências sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.